Assistimos recentemente ao VI Capítulo da Confraria Gastronómica do Bucho de Arganil, cuja singularidade do seu Programa constituiu uma verdadeira manifestação que possibilitou revisitar as tradições e as vivências rurais, demonstrando a riqueza da nossa história e fundamentando algumas das apostas que são feitas na actualidade.
Para além dos momentos de lazer e convívio que são proporcionados nestes Capítulos, o que retemos e queremos destacar da acção da Confraria é a sua afirmação como parceiro para o desenvolvimento do Concelho e Região, demonstrado pela preocupação em trabalhar o potencial local, ligado à gastronomia e à própria história que lhe está associada, divulgando-o e promovendo-o, num processo que se traduz numa maior visibilidade das especialidades locais e num maior estimulo aos produtores que têm vindo a apostar neste sector económico.
O papel desempenhado a este nível é marcado pelo sucesso, também porque tem sido possível aproveitar e complementar o trabalho dinamizado ao longo dos anos por outras Instituições locais, na disponibilização de apoio técnico e financeiro ao investimento, o qual tem sido marcante para uma estratégia de valorização e promoção dos produtos endógenos, capacitando e modernizando um conjunto significativo de estruturas de produção na Região, que lhes permite aumentar a sua competitividade e a sua rentabilidade económica, factor essencial para a motivação dos empresários. Podemos afirmar com propriedade que hoje o Bucho é um produto que cria riqueza no Concelho de Arganil!
É pois, com satisfação redobrada que verificamos, enquanto responsáveis por uma estrutura de apoio ao desenvolvimento local - a ADIBER -, que o esforço desenvolvido desde há alguns anos a esta parte no reforço da estrutura produtiva local, através da criação e modernização de micro iniciativas empresariais, está a dar os seus frutos, já que a Beira Serra se apresenta como um território empreendedor, mais competitivo e capaz de colocar nos mercados diversos produtos de excelência, que são característicos e se assumem como diferenciadores e distintivos face a outras Regiões rurais.
A aposta nos produtos locais de qualidade que tem resultado no aproveitamento das oportunidades instaladas, traduz-se actualmente na criação e consolidação de um número interessante de postos de trabalho e consequentemente de mais riqueza, ajudando à diversificação do tecido económico local, disseminando essa riqueza por toda a região, nomeadamente em aldeias mais isoladas, contribuindo para a fixação de alguma da população residente, que assim vai resistindo às constrangimentos que por aqui vão subsistindo.
Resultado deste trabalho integrado e articulado, o Cabaz da Beira Serra apresenta-se como o corolário de todo este processo, na medida em que é o repositório das especialidades gastronómicas locais – Queijo Serra da Estrela, Queijo de Cabra, Mel, Enchidos, Bucho, Doçaria, Compostas, Broa, Licores, Vinhos, … - e de marcas do artesanato local.– casinhas de xisto, latoaria, trabalhos em cobre, colheres de pau, linhos, cestaria, … -, sendo hoje comercializado e distribuído em vários pontos do País, aspecto que deverá ser considerado como prioritário nesta fase.
Como já referimos em distintas ocasiões, é fundamental que outras organizações regionais, caso das Casas Concelhias sedeadas em Lisboa e das próprias Comissões de Melhoramentos, se mostrem disponíveis e criem as condições necessárias para participar neste processo, facilitando o acesso dos naturais da Região, e não só, aos produtos da sua terra, respondendo ao que poderemos designar por “Mercado da Saudade”, ou seja, abrindo novas perspectivas e novas oportunidades de negócio para quem vai lutando diariamente para contrariar dificuldades acrescidas, para mais num momento de crise como o que o País atravessa.
Este envolvimento, complementar ao trabalho da Confraria do Bucho e ao de outros Parceiros locais, ao permitir o alargamento dos mercados consumidores, constituir-se-á num sinal de esperança e de optimismo face a um futuro que é cada vez mais incerto, mas perante o qual não nos podemos resignar nem baixar os braços.
A solução muitas vezes está próxima! Saibamos identificá-la e utilizá-la de modo a que cada um de nós possa dar o singelo mas determinante contributo para a afirmação de um Território que queremos Vivo, Criativo e Empreendedor.
Artigo publicado no Jornal "A Comarca de Arganil" de 10.11.2011