Só é vencido quem desiste de lutar

20
Out 15

No rescaldo das eleições é natural que as análises e os comentários sejam direccionados preferencialmente às ilações políticas que delas decorrem. É nessa esfera que as mesmas se enquadram, ao proporcionar a cada cidadão a livre escolha do programa, que no seu entender, melhor responde aos problemas do país.

Entre outros, considero que há um indicador que, pela sua importância no contexto dos territórios de baixa densidade, também deve ser merecedor de atenção, pelos efeitos que produz e que poderão agravar as assimetrias com outros territórios, se entretanto não forem tomadas medidas correctivas.

Refiro-me à evidência de nos últimos 4 anos, desde as eleições Legislativas de 2011, os 5 concelhos do Interior do Distrito de Coimbra terem perdido cerca de 5% dos seus eleitores, o que não deixa de ser um número assustador face ao curto espaço de tempo decorrido.

Esta realidade confirma o acelerado processo de despovoamento que caracteriza este Território, e não é displicente a sua importância porquanto tem consequências significativas tanto ao nível do financiamento das Autarquias Locais, que está indexado à população, como ao seu próprio modelo de gestão, pois o número de eleitos locais está directamente relacionado com os eleitores inscritos.

É a representatividade de todos os cidadãos que poderá estar em causa neste processo e consequentemente a própria democracia.

Com efeito, quanto menos eleitos menor a possibilidade de todas as forças políticas elegerem Vereadores ou Membros das Assembleias Municipais, limitando a capacidade de intervenção a um maior número de cidadãos, cujas opiniões não encontrarão eco nos respectivos órgãos autárquicos.

A continuar o mesmo ritmo de redução de eleitores, temo que nas eleições autárquicas de 2021, dentro de 6 anos, haverá concelhos na Beira Serra que irão sentir directamente este efeito, sendo o Concelho de Arganil o que se encontra numa situação mais preocupante, ao serem obrigados a diminuir o número de eleitos, tal como preconiza a actual Lei, isto se nada for feito para contrariar este dramático cenário.

Em 2011 foi despoletado processo de reorganização administrativa ao nível das Freguesias. Terá constituído esse o início do caminho do qual resultará uma agregação de Municípios para ganhar a escala de intervenção entretanto alienada?

Para o bom funcionamento da democracia e da participação cívica dos cidadãos, desejo que não seja essa a via de resolução do problema.

Pelo contrário, o quadro descrito deve ser entendido como mais um estímulo para a urgente adopção de políticas públicas promotoras da coesão social e territorial, que revertam ou, pelo menos, minimizem os efeitos desta situação, sem colocar em causa a identidade e o sentimento de pertença dos cidadãos ao seu próprio território, que jamais deve ser questionado.

 

Publicado no Diário de Coimbra em 20.10.2015

publicado por miguelventura às 20:00

06
Out 15

Muhammad Yunus, Nobel da Paz, definiu como negócio social o que emerge de uma empresa que não visa a maximização do lucro, mas que é projectada para atingir um objectivo social ao qual as tradicionais regras dos mercados não estão preparadas para responder.

Atrevo-me a incluir nesta definição, tendo por base algumas experiências que decorrem no contexto dos territórios de montanha e de baixa densidade em que a dispersão das populações é uma realidade concreta, algumas actividades que se apresentam com um cariz fortemente social, sem esquecer o fim económico que lhe está subjacente.

Apesar do eventual e inexplicável estigma que em alguns possam ainda associar ao exercício da actividade de vendedor ambulante nas aldeias serranas, devem merecer relevância os aspectos positivos que daí decorrem tanto para o bem-estar das populações, como enquanto oportunidade de negócio para quem o desenvolve.    

É neste quadro que pretendo evidenciar a capacidade empreendedora de dois jovens da Beira Serra, que contrariando uma postura passiva e de resignação face às circunstâncias do momento, souberam identificar uma possibilidade com a qual poderão concretizar as suas legítimas ambições, sendo hoje verdadeiros agentes de desenvolvimento rurais que diariamente se disponibilizam para combater o isolamento de quem resiste em continuar a marcar a paisagem com a presença humana.

O facto de, na maioria dos casos, se constituírem como a única presença externa à aldeia durante vários dias, aliado à disponibilidade que sempre manifestam em dar apoio e colaborar com os seus clientes e população em geral, permite-lhes exercer um importante contributo para a fixação desta com uma melhor qualidade de vida, ao promoverem a aproximação e a ligação destas pessoas aos bens e aos serviços de que necessitam para o seu dia-a-dia, e ao transportarem, juntamente com a sua juventude, uma palavra amiga e de conforto, fazendo-as sentir que não estão sós.  

Os exemplos do Joaquim Mateus e do Cláudio Silva, empresários em Cortes de Alvares e Arganil, respectivamente, entre outros, pela sua atitude de abnegação, decorrente da circunstância de juntarem à sua actividade profissional, uma vocação solidária de dedicação ao próximo e a quem mais necessita dos seus préstimos, encaixam na perfeição na personagem do novo “João Semana”, para quem os ganhos económicos não eram o único fim da sua acção.

A sua predestinação para o risco e pro-actividade vem demonstrar que existe um conjunto vasto de oportunidades que devem ser potenciadas em benefício da criação de novas empresas e empregos e que, ao mesmo tempo, representam um factor de desenvolvimento local a não desprezar nestes territórios mais fragilizados, onde todos têm uma responsabilidade social a assumir e a concretizar a bem do todo colectivo.

 

Publicado no Diário de Coimbra em 06.10.2015

publicado por miguelventura às 20:00

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