Os últimos dias têm sido fortemente marcados pelas indesejáveis consequências decorrentes dos cortes cegos promovidos pelo Estado nos últimos anos em sectores fundamentais para a vida dos cidadãos, designadamente na área da Saúde.
A propósito das mortes motivadas por falta de assistência médica em Lisboa, ocorreu-me o caso de um amigo que sofreu de um problema idêntico ao relatado, tendo tido a sorte de tal ter acontecido numa pequena vila do Interior do País, onde os meios existentes lhe permitiram um socorro imediato e eficaz.
A gravidade do diagnóstico exigia uma cirurgia muito urgente e, apesar de tal ter ocorrido a uma 6ª feira, pelas 22 horas estava a ser intervencionado nos CHUC por uma das melhores equipas de neurocirurgia do País, a qual colocou o seu dever, enquanto profissionais de saúde de excelência, acima de quaisquer outros interesses de índole material.
Foi essa disponibilidade imediata e esse espírito de missão, que permitiu que esse amigo tenha actualmente uma vida perfeitamente normal, contrariamente aos que apesar de viverem no Portugal desenvolvido se viram privados do seu maior bem que é a vida, tão só porque nesse “1º mundo” os valores que alguns juraram defender se perderam em favor de interesses financeiros de um Estado que colocou a pessoa humana num patamar inferior das suas prioridades.
Hoje, quase dois anos depois desse trágico dia, o meu amigo desenvolve a sua profissão com toda a normalidade, com isso ajudando a criar mais riqueza para o País e cujos impostos que paga, fruto do seu empenho e trabalho, compensam os gastos que o Estado desembolsou ao salvar a sua vida.
Foram estas mesmas restrições financeiras que conduziram ao fecho de uma pequena unidade de saúde que prestou um excelente serviço de proximidade, reconhecido como fundamental para a qualidade de vida de doentes dependentes e sem condições habitacionais e/ou familiares que lhe permitam minimizar o seu sofrimento e aumentar a sua esperança de vida.
Perante o que temos assistimos, como explicar que o Centro Municipal de Saúde e Acção Social de Góis, gerido pela Santa Casa da Misericórdia e por onde passaram cerca de 500 doentes, tenha sido encerrado com o objectivo de poupar uns míseros 60.000 euros anuais ao mesmo Estado que vai assumir 3.000 milhões de euros com as perdas do BANIF? Quantas vidas se vão perder com esta decisão economicista? E os impactos sociais com a perda dos postos de trabalho que aí desenvolviam a sua actividade?
Estes são exemplos de que é urgente que a defesa do Estado Social e do bem-estar dos cidadãos se constitua como a prioridade das prioridades por parte de quem nos governa.
Que o ano 2016 seja portador dessa nova esperança, onde os valores do humanismo e da solidariedade se sobreponham definitivamente às erradas opções que vão sendo tomadas em favor de outros interesses.
Publicado no Diário de Coimbra em 29.12.2015